O ESTADO É O LOBO DO ESTADO


  Seria hipocrisia dizer que violência não resolve problemas. Países como a Noruega, Suécia ou a Alemanha não se tornaram tão democráticos e livres com uma conversa, café e bolo. As pessoas lutaram para isso, usando a violência. Como as pessoas se defendem quando tentam tirar sua liberdade? Elas resolvem com violência. Contudo, o fato do uso da violência ter uma capacidade, as vezes, de resolver problemáticas, ela não é a solução e nem o primeiro ou segundo método a ser tentado. Se a violência fosse a primeira opção de todos, talvez a diplomacia nunca tive existido.

  O fato é que a possibilidade de resolver as adversidades na base de um diálogo nem sempre quer dizer que as pessoas não irão usar também a violência. E é por isso que este texto irá retratar os dois lados da moeda. O diálogo e a violência usando o filme da Netflix, Sergio.

  Começando com o lado bom da moeda, vamos falar primeiramente do diálogo, ou especificamente, da diplomacia. No filme, há algumas cenas em que o protagonista tenta a todo custo resolver a questão da independência do Timor-Leste sem uma nova possível guerra entre esta futura nação e a Indonésia. No final, ele convence a Indonésia a deixar sua ambição em ter este território e assim, possibilita a independência do Timor-Leste. Analisando essa parte, parece que o diálogo realmente pode evitar conflitos, ou pior, guerras portanto a diplomacia, já que realmente funciona, deveria ser a única ferramenta usada para evitar conflitos, porém nem sempre é assim.

Dois filmes sobre Sérgio Vieira de Mello | Revista de Cinema

  Por isso, vamos para o segundo – e negativo - lado da moeda: a violência. No final do filme, fica claro que Sérgio morreu no atentado em Bagdá, no Iraque. O Oriente Médio é uma região conhecida pelo Ocidente, sobretudo os Estados Unidos e Europa Ocidental como a região do “terrorismo”. Nos anos 90 e principalmente depois do ataque de 11 de setembro, ser de etnia árabe ou muçulmano virou sinônimo de ser perigoso. Este preconceito que é xenofóbico sobre tal povo e crentes também seria um tipo de violência moral e verbal, ou não seria?  Bom, o ponto é que com esse ataque terrorista assumido pela AL- Qaeda que levou a precoce morte de Sérgio foi provocada pela violência, o que é óbvio. Todavia, o mais importante não é entender o ataque em si, mas entender do porque ele aconteceu.

  A justificativa usada pelo o ataque foi de que Sérgio havia ajudado a extrair uma parte (o Timor Leste) do país muçulmano da Indonésia. Teoricamente, o ataque ocorreu por uma questão religiosa. Então nesse caso, o diálogo gerou a violência. Agora, será analisado uma situação contrária a esta. No filme 7500, também baseado em fatos reais, onde 4 muçulmanos sendo 3 deles árabes (esta parte é muito importante porque quer dizer que um deles era ocidental) invadem um avião que saia de Berlim a caminho de Paris com a intenção de derrubá-lo.

7500 – Papo de Cinema

  Uma das principais falas do filme, se não a principal, é quando um desses homens diz no rádio para a central de comando a seguinte fala: “Vocês (o Ocidente) matam milhares dos meus irmãos todos os dias e não sentem a dor de vidas perdidas. Agora chegou a vez de fazermos o mesmo com vocês.”. Nesse caso, a violência gerou a violência. Que violência foi essa? A violência do Ocidente contra o povo árabe, sobretudo muçulmano e especialmente aqueles do Oriente Médio. Analisando essas duas partes separadas, mas que tem muito em comum, o que deve ser retratado é: não importa o que sucedeu, a violência faz parte do homem. O homem é o lobo do homem. Para Hobbes, só um Estado forte poderia acabar com essa natureza abominável atrás de um contrato social feito pelos indivíduos. Talvez, nos tempos de hoje, a pergunta que deveria ser feita para Hobbes é: e o que se deve fazer quando o Estado vira o lobo do Estado?  

  Já que está se falando especialmente do islamismo, matar cidadãos muçulmanos ou de uma etnia diferente da sua não é proteger nenhum cidadão além de si mesmo. Israel é um dos muitos países no mundo em que deveria aprender isso e suspender o argumento de que apenas ataca a Palestina porque aquela terra é israelense de direito enquanto a verdadeira justificativa de matar e exterminar todo um povo é por questões imperialistas e não históricas ou religiosas.

  Chegando no fim, temos como conclusão que o homem é naturalmente violento, basta saber se o indivíduo vai ou não conseguir suprir a violência dentro de si mesmo. Portanto, não há nada no mundo que irá acabar a violência, além da força do querer do homem, que sozinho, não consegue. É por tal motivo, que somente a sociedade em conjunto pode acabar com a violência e qualquer tipo de repressão já que é nela onde se acha pessoas que tem mais a diplomacia em si do que a agressão.

  Assim, irei ter que discordar de Rousseau que disse que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. A sociedade não é de toda má e impura, assim como não é todo homem que nasce bom. Dependendo de onde o indivíduo está inserido ou como foi criado, ambos podem ter uma relação boa ou ruim.

  E é por isso que escrevo: vivemos em um mundo caótico onde é difícil entender as regras. Por que alguns tem que fugir enquanto outros estão seguros? Por que algumas pessoas são jogadas na rua? E por que algumas vezes, quando você tenta fazer algo bom, ainda é visto com ódio? Não é estranho as pessoas desistirem. Que deixem de acreditar no bem. Mas por mais que pareça, nenhuma pessoa está sozinha.

  Todos e cada um de nós, é uma peça importante no grande caos, e o que você faz hoje, terá efeito amanhã. Pode ser difícil de dizer exatamente qual tipo de efeito, se ele será bom ou ruim, e normalmente nem sempre pode-se ver como tudo se conecta. Mas os efeitos das ações humanas permanecerão sempre em algum lugar do caos. Em 100 anos, pode ter máquinas que calculem o efeito de todas e cada ação. Mas até lá, pode-se confiar nisso: o medo se espalha, mas com sorte, o amor também.

Julia Neves – M211


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